Tristeza e revolta são as palavras que fazem eco na minha cabeça.
Incêndios de verão nas nossas matas e florestas, infelizmente, não é nada de novo. Desde muito nova que me lembro de os haver todos os anos. Várias vezes ouvi dizerem que foi o pior ano e a maior área ardida mas no ano seguinte é quase sempre pior. Só piora e não há medidas (eficazes) para combater este enorme flagelo.
Custa-me tanto ver as nossas manchas verdes com monoculturas como o eucalipto e o pinheiro, perdendo-se na história tudo o que são as outras árvores que em tempos aí existiram.
Quando era criança e adolescente pertencia, na escola preparatória, ao clube do ar livre. Pelo menos uma vez por mês, fizesse chuva ou sol, fazíamos caminhadas de vários kilómetros nas montanhas do nosso Portugal. Tínhamos um enorme respeito pelo ambiente e não deixávamos rasto da nossa passagem mas já nessa altura me recordo dos memoráveis e bem humorados professores Artur e Semide nos dizerem para destruirmos os eucaliptos pequeninos que apareciam no nosso caminho, pois estes eram uma praga e empobreciam as nossa terras, esgotando toda a água disponível.
Limpeza das matas? Meia dúzia de pessoas o faz, porque de resto basta fazer uma caminhadas na montanha para perceber que tal limpeza não existe.
Acredito que há muita gente a lucrar com o “negócio” dos incêndios (desde a madeira, aos terrenos para construção, passando por tantas outros). Enfim… lamentável.
Ontem tocou-me mais de perto. Já durante a tarde o ar estava irrespirável em Braga. Havia faúlhas por todo o lado. Cheiro intenso a incêndio. O sol estava escondido por detrás de uma enorme e densa núvem de fumo que pairava na cidade. Estava um calor insuportavelmente abafado (às 17:30 o termómetro do carro marcava 35ºC). Era impossível perceber onde estava a arder tal era a quantidade de fumo.
Depois de jantar e de adormecer os miúdos fui à janela e nem queria acreditar… por momentos, o mundo caiu-me nos pés. O “meu” lindo monte da St. Marta estava em chamas. Começou no sopé, mesmo junto à cidade e demasiado rápido, tal era a força do vento que soprava, se alastrou até ao cume e varreu toda a encosta do Sameiro, chegando ao Bom Jesus. As labaredas eram altas e assustadoras. Tremi. Temi pelas pessoas que lá andavam no combate às chamas, pelas pessoas com casas na encosta, pela “minha” capelinha, pelo “nosso” refúgio na St. Marta que tão bem nos recebe quando o dia corre menos bem, quando está muito calor cá em baixo nos dias quentes de verão ou quando queremos ir buscar água da fonte (e tantas vezes o fazemos). Não queria acreditar que tudo isto podia desaparecer. Que o Jaques ia deixar de ter os seus trilhos para andar de bicicleta… Como ia explicar tudo isto ao Manel, que tanto gosta de lá ir?
Fui dormir com um nó no estômago e com aquelas imagens dantescas a assolarem-me o pensamento.
Hoje de manhã mal abri a persiana do quarto do Manel, vimos o fumo a sair de toda a encosta e a revelar a enormidade do que tinha acontecido. Tive que lhe contar que tinha havido um incêndio grande no “nosso” monte. Ele questionou, a choramingar, se a pedra dele (local no cimo do monte onde ele está sempre a querer ir), também tinha ardido. Disse-lhe que não sabia mas que podia também ter ardido. Rapidamente ele relativizou e informou-me que a pedra dele não é bem na St. Marta (junto à fonte), por isso não devia ter ardido. Engoli em seco. Seguiu-se a pergunta difícil de responder a uma criança de 4 anos, “como começam os incêndios?”. Desleixo, descuido, causas naturais, maluquinhos que não sabem o que fazem, … . A conversa ficou por aí.
O ar contínua irrespirável. Nem a chuvinha que caiu limpou o ar saturado de fumo.
Não sei o cenário que vou encontrar quando subir ao monte novamente mas espero que não seja tão mau como o cenário que vi ontem. As crianças não merecem e nós também não!
Desejo muito que sejam tomadas medidas rapidamente. Não pode ficar novamente tudo na mesma e esperarmos pelos próximos incêndios que desbastam o nosso país e causam tantas mortes.