Estamos no século XXI e somos a geração em que (supostamente) as mulheres têm mais liberdade e igualdade de género.
Somos a geração, onde após tanta luta dos nossos pais, podemos vestir calças, sair à rua e viajar sozinhas, fumar, namorar desde cedo, estudar até à idade em que noutra geração já todas tinham filhos, maquilharmo-nos, conduzir, dividir casa, construir família e ter filhos sem casar, ter um emprego entre tantas outras coisas.
Tudo isto é válido e conseguimos fazê-lo sem qualquer problema. Somos livres e sentimo-nos bem com isso. Estudamos, arranjamos trabalho. Somos bem sucedidas, disponíveis e excelentes profissionais!
Tudo verdade, mas tudo se altera no dia em que engravidas pela primeira vez.
Começa logo pelo receio que é contares aos teus chefes que estás grávida. Estás super feliz mas não sabes se vão reagir bem à noticia, pois a tua disponibilidade (e mobilidade, paciência, foco, etc) vai diminuir. De seguida vem o problema de teres que faltar ou sair mais cedo para ires às consultas e fazer análises. Afinal já não és assim tão disponível e tão necessária, mas os meses vão passando, com todos à espera que o rebento nasça rápido e tudo volte ao normal.
O problema é que depois do nosso filho nascer, nasce em nós uma coisa enorme que desconheciamos até então, que é ser Mãe, e nada volta a ser como dantes! Agora temos um ser lindo, nosso, que defendemos com unhas e dentes de tudo o que o possa afectar.
Vem o período de licença. Mais um problema… Para pedir 5 meses em vez de 4, já é preciso coragem, para pedir licença alargada, praticamente estamos a traçar a nossa sentença… tanto tempo? Pois… mas é inequivocamente melhor para eles estarem com as mães do que irem para as creches tão imaturos. Como podemos seguir as orientações da OMS que dizem para dar de mamar em exclusivo, até aos 6 meses? Praticamente impossível se se começar a trabalhar. Obviamente ninguém está muito preocupado com isso. “Dás um biberão e está tudo bem”. Até estaria mas eu não quero que seja assim. Eu tenho leite, sei que é melhor para ele e pretendo dar-lhe!
Os problemas ficam por aqui? Nem pensar! Depois de gozarmos a licença de parentalidade, retomamos ao trabalho com o coração nas mãos e as lágrimas a escorrer por termos deixado os nossos bebés com pessoas que mal conhecemos, numa creche. Mas temos que trabalhar, até porque temos que pagar a creche. Retomamos o trabalho, mas não a tempo inteiro, temos redução de 2h de trabalho por dia para amamentar. Mais um problema. Afinal já regressamos mas, muito embora tenhamos sido excelentes profissionais, agora até o somos, mas não temos disponibilidade e por isso não cumprimos com os requisitos impostos. Se a isso, acrescentarmos as vezes que temos que faltar, sair mais cedo ou chegar mais tarde, porque eles (que estão a sentir a nossa falta) ficam doentes ou têm que ir ao pediatra ou às vacinas, facilmente ficamos com o nosso lugar comprometido.
Obviamente nem conto as vezes que, com eles doentes, lhes damos ben-u-ron, porque não temos a quem os deixar e não podemos mesmo faltar. Nesses dias rezamos para que não nos telefonem da creche para os irmos buscar, pois mais uma vez temos que sair do trabalho fora de horas. E conseguirá alguém num dia destes estar completamente focada no trabalho e cheia de motivação? Dificilmente…
O grande problema da emancipação das mulheres, que ninguém nos contou, foi que agora que és Mãe, para além de teres que cuidar dos teus filhos, continuas a ter que trabalhar e chegas a casa, depois de um dia cansativo e desgastante e ainda tens uma casa e filhos para cuidar. Ficas com a pior hora deles, a hora em que já estão super cansados, depois de terem estado um dia inteiro na creche, fazem birras e não são os verdadeiros doces fofinhos que tu querias que fossem! Ainda assim, com muito amor, dás-lhes banho, fazes jantar, brincas 5 minutos e está na hora de os deitar porque têm que acordar super cedo para irem para as creches… é ridiculo o pouco tempo que podes estar com eles. Mas se ao menos continuássemos a ser excelentes profissionais… mas não! Poucas entidades patronais conheço onde sejam compreensivos quando efectivamente temos que ficar com os nosso filhos, porque estão cheios de febre e não querem mais ninguém a não ser a Mãe. O problema mantém-se, falta de disponibilidade e dedicação…
Custa-me a perceber como é que grande parte das nossas chefias não percebe que se estivermos bem e em paz, trabalhamos muito melhor e produzimos mais e que as nossas capacidades não diminuíram por sermos Mães, pelo contrário, aumentaram e muito mas não é por não estarmos lá 8, 9 ou 10 horas, só para nos verem e nos acharem interessadas, que deixamos de ser boas profissionais e fazermos o nosso trabalho bem feito.
Deixem-nos trabalhar e ser Mães ao mesmo tempo… nós conseguimos e as próximas gerações serão bem mais felizes e bem sucedidas!
Foi apenas um desabafo de uma Mãe de 2, cansada, depois de eles terem estado com uma gastroenterite e eu também 😉 Acredito que muitas nunca se tenham sentido assim…
Nota: A foto da moldura foi um momento muito bem captado pela grande fotógrafa do projecto @tinytales.pt. Obrigada!
Parabéns Mãe Natureza,soberbo texto: honesto e factual! Excelente continuaçao para a Ecoloja e grata pelas partilhas!está provado que “voces conseguem sim , nós agraadecemos o Futuro que ai vem cobstruido por Vós;) Muito sucesso e Alegrias********
Ohh Nininha! Obrigada pelas doces palavras 😉 Estamos juntas nos ideais e na luta por um mundo melhor!!! Bjinhos com saudades
Identifico-me a 100% com o post. Criei dois filhos sózinha, sempre a trabalhar. Quando o mais velho nasceu deixei os turnos e pedi só manhãs. Passei a ganhar menos, mas ambos ganhámos em qualidade e assim ele evitou a creche e até aos três anos teve uma ama quaze como mãe. Essa opção valeu-me a contrariedade do chefe que necessitava de enfermeiros disponíveis para turnos e até chamados nas folgas e descansos, e que seguissem o turno sempre que alguém faltava. Na licença de parto ligaram-me da direção e tive de ir trabalhar, sem qualquer compensação. Estavamos em 1980 e os recursos eram muito escassos. Se tinham febre, deixava-os com o ben-u-ron tomado e de lágrimas contidas e coração apertado ía trabalhar e se ao terceiro dia tinha mesmo que faltar, o nó no peito ainda apertava mais quando o supervisor fazia questão de frizar que ” nunca faltou por um filho”. Claro, era a mulher que faltava, mas eu era a mãe e única para eles. Esta culpa, da falta de os poder acompanhar em dias em que estão tão carentes de um colinho de mãe corroiem a alma sempre, por muito que os tenha compensado com todo o afecto do mundo.
Olá Maria Ana,
Agradeço imenso a sua partilha! É mesmo esse o sentimento. Verdade que precisamos de dinheiro mas verdade também que o tempo passa demasiado rápido e os nossos filhos precisam muito de nós para serem seres independentes, confiantes e com autoestima. Ando a viver nessa contrariedade e muitas vezes sinto-me frustrada e má mãe por os deixar mas tudo se irá resolver! Estou a fazer por isso 😉 E todas nós, cada uma à sua maneira, temos que o fazer!
Bjinhos e tudo de bom para a sua família.
Grata
Parabéns Marta pelo desabafo genuíno. Acho que todas mães passam pelo mesmo. E realmente julgo que essa geração de mães que recebeu os frutos das lutas femininas do passado ainda tem que combater esse estigma que é a maternidade. Sou da opinião que deveria haver uma gestão mais inteligente por parte tanto das mães como das entidades patronais no sentido de se fazer uma transição mais suave nas ausências necessárias por parte da mãe. Como sou igualmente da opinião que essa tarefa deveria ser também part e do dia a dia do pai, de forma a que estejam mais presente no crescimento dos seus filhos. Acredito que o futuro nos trará essas opções. Beijão do Davidão! ?
Olá Davidão!!
Palavras sempre cheias de sabedoria! Concordo David. Verdade que por muitos emancipadas que sejamos há sempre uma carga educacional que herdamos dos nossos antepassados 😉
Ainda bem que cada vez há mais pais como tu, sempre presentes no crescimento dos nossos filhos! Aos poucos chegaremos lá!
Bjinhos grandes para vocês!
Olá, Marta!
Conhecemo-nos ontem, e conversamos um bocadinho, no Christmas Fest, no Porto. E cá estou!
Quanto a este texto, concordo absolutamente em tudo. É dramático aquilo que actualmente se exige ou espera, das mulheres-mães. Infelizmente, Portugal está longe dos direitos que as mulheres têm noutros países, como na Alemanha, por ex. , onde a licença se estende até aos 3 anos da criança, sem que isso levante problemas ao patronato. Há noção de que a taxa de natalidade é baixa, mas nada se faz para reverter isso, apoiando de forma efectiva as famílias. Os governos têm falhado totalmente!
No meu caso, fui muito afortunada, pois como professora que ficaria colocada longe de casa, pude escolher ficar com a minha família e ser mãe a tempo inteiro durante muitos anos. Agora trabalho como freelance e continuo a ter muita disponibilidade para os meus filhos., que adolescentes, necessitam ainda muito de acompanhamento. Mas entristece-me imenso ver crianças que estão desde muito cedo, por conta delas. No 5´ºano e já com chave para entrar em casa e aquecer o almoço no micro-ondas!
Um beijinho e tudo de bom 🙂
Olá Fernanda!
Muito obrigada pelo comentário e pela conversa de ontem. Gostei muito de Vos conhecer!
É verdade… e preocupa-me muito como será esta nova geração, a dos nossos filhos, que tem tanta falta de apoio (por falta de tempo) dos seus pais!
Mas cá estamos a tentar fazer o melhor que sabemos e podemos 😉
Beijinhos grandes para si e para a sua linda filha!
Alguma questão contactem.
Beijinhos.
Encontrei hoje este site por acaso e ainda bem… este post faz-me pensar nas dificuldades que vou sentir mais à frente. Estou grávida de 38 semanas e desempregada. Vai ser dura a luta para encontrar trabalho no próximo ano, mas nós mulheres conseguimos tudo…tudo o que queremos! 🙂
A partir de hoje vou seguir por aqui 😉
bjs
Olá Ana Luísa! Obrigada pelo comentário 😉
Posso partilhar consigo que depois de vários anos de trabalho, quando fiquei grávida do primeiro filho fiquei desempregada. Embora possa parecer estranho foi óptimo! Gozei a gravidez com toda a calma e contemplação que ela merece e quando ele nasceu só tinha que me preocipar com ele e não com os meses que estavam a passar muito rápido e o medo avassalador de ter que “abandonar” os nossos bebés!
Aproveite ao máximo as poucas semanas de gravidez que lhe restam e goze o mais que puder o seu bebé. Quando se sentir confortável então aí sim, regresse ao trabalho! É a minha sugestão 😉
Tudo de bom para vocês!
Bjinho e obrigada